
Muitos julgam que alguns que por escreverem umas quantas linhas são inteligentes mas a tradição não falha: quem tem o cérebro pendurado num cabine nem com um penso rápido se cura
Dier Lindenbaum do austríaco Franz Schubert acompanha este texto sobre a persistente adoção (totalmente desprovida de inocência) de erros grosseiros na tradução das tradições minhotas (não subsiste coisa exclusivamente tradicional de bracarenses ou vianenses ou de outro qualquer “ense” como nos querem fazer crer) porque o minhoto (palavra em sentido lato) é, como sempre o foi, uma alma Celta! E cá, como em todos os povos que ainda preservam e ostentam orgulhosamente essa génese, a família é a base de todas as tradições dominadas pela figura matriarcal. Aos homens nunca estiveram acometidas outras tarefas que não fossem as de pescar, caçar, pastar e cultivar enquanto às mulheres sempre coube a árdua empreitada de cuidar do património familiar, como um todo.
Não se queira fazer pensar que o homem minhoto é diferente em Braga, em Viana, em Guimarães ou em Esposende porque o seu hábito é transversal: trabalha para o sustento da família e dedica os tempos livres ao puro exercício do braço e da língua, outrora nas bendas e estalagens, mas agora em cafetarias e bares tão incaracterísticos que são imitáveis em qualquer parte do mundo.
“Tourism in Britain could not function wihtout our network of 48.000 pubs” escreve Brigid Simmonds, presidente da British Beer & Pub Association na última edição da revista trimestral da Tourism Society, organização que integro a par de outras como a World Food Travel Association, a World Gourmet Society ou a Europa Nostra, esta última liderada pelo carismático Plácido Domingo e dedicada a denunciar património em risco. Mas o Minho perdeu todo o glamour das bendas e estalagens e os muitos dos nossos dirigentes associativos económicos e culturais (alguns agora em funções políticas que sempre quiseram ocupar) nada fizeram e nunca ninguém os viu em instituições internacionais, verdadeiramente resp eitáveis.
Braga, Viana e outras terras minhotas sempre foram dominadas por espécimes que vivem de vaidades e assumem para si epítetos arrepiantes de sabedoria bacocoróloga e desprovida de sentido no que à defesa da tradição e do património regional diz respeito. Se em Braga sempre se defendeu um passado eclesiástico (felizmente cada vez menos presente) que foi desvirtuando o futuro, em Viana arrebanha-se o peso do jugo bacalhoeiro quando a cidade nunca foi mais do que um dos maiores postos mercantis do país até ao dia em que um déspota chamado Sebastião tratou de dar aos ingleses todo o nosso património genético, incluindo o bem que mais era exportado – o Vinho Verde – transformando-o num suco adocicado que sempre foi mais ao gosto do clero, nas visitas pascais.
Li no website do Município de Braga «o Minho é sobretudo bacalhoeiro», reproduzindo uma frase de um professor do ensino básico que nunca percebeu de turismo e muito menos de património cultural. Ora, se alguma bracarologia existisse no município rapidamente se trataria de remendar erros e enterrar, para sempre, o evento Braga Romana que só perpetua os tiques do imperador antecedente e insulta as tradições ao ser patrocinado por uma cervejeira.
Curiosamente, ou talvez não, os pelouros da Cultura (que confesso ainda não ter percebido porque está politicamente ligada à Educação quando a Comissão Europeia nos diz que ela é a base do nosso desenvolvimento económico) das principais urbes minhotas estão entregues a mulheres, oriundas do ensino, mas a figura matriarcal está ausente do nosso quotidiano.
Pois bem, recomendo-vos que vejam o The Grand Budapest Hotel, visitem as solitárias Lindenbaum do Parque da Ponte ou do Bom Jesus e terão aí o epitáfio da ancestral tradição gastronómica minhota que sempre viveu à base de vinho verde, migas, papas e açordas.
Deverá estar ligado para publicar um comentário.